quarta-feira, 23 de abril de 2008

Entrevista com Wagner Brenner




Como muita gente já sabe, este é Wagner Brenner, fundador do Update Or Die. Site esse que é um grande modelo de negócio para outros blogs. Tomei a liberdade de postar aqui uma entrevista feita pelo Blog do Yassuda, que traz algumas informações novas para nós, blogueiros. Segue na integra a entrevista feita pelo Yassuda:

1) O Update or Die começou como um blog pessoal em 2004. Como aconteceram as mudanças para que ele adquirisse esta cara de coletivo de idéias?

Cara, todo mundo acha isso. Mas o Update or Die não começou como um blog não. Começou com uns encontros informais que eu fazia com alguns clientes na agência, quando eu era Diretor de Crição na McCann. Nesses encontros eu dividia referências: internet, livros, fotografia, filmes, tudo. Hoje toda agência faz isso “pra inglês ver”, mas na época ninguém fazia. Eu sabia que as coisas mais ousadas e inovadoras precisavam de um contexto, de uma atualizada em todos que estivessem no processo. Bom, esses encontros foram ficando cada vez mais disputados. Vieram outros clientes, outras pessoas da agência. A sala começou a ficar pequena e o jeito foi criar uma versão on line, para que todos pudessem participar e também para ir arquivando o material. Abri na raça uma conta no Blogger e criei o Updaters - Update or Die. O resto é história. Em 2006 resolvi transformar o Updaters em um projeto maior e o transformei em empresa. Convidei algumas pessoas para escrever comigo, escolhidas a dedo. Desse primeiro círculo, vieram novas indicações e hoje já somos 87 Updaters no Brasil e no mundo. Gente fantástica, de diversas áreas: cinema, propaganda, moda, arquitetura, mkt, design. Todos uns loucos obsecados. Cada um, por algum tipo de assunto. Consegui reunir um grupo que, na minha opinião, é imbatível no garimpo. Não aquela coisa boba que chamo de “Síndrome da Adolescente” de ver quem “deu primeiro”, mas no sentido de achar a coisa certa para um post e entregar de um jeito bacana. Outra marca registrada é a falta de afetação ou de teorização exagerada. Fazemos um conteúdo “profundamente leve”, sabedoria trazida em pés de pombo, como dizia Nietzsche. Ou seja: o Updaters não é um blog. É muito mais que isso. É atitude. É um movimento que celebra o novo.

2) Além de ser um blog referência, o UoD aparenta ter uma forte tendência aos negócios. Em qual momento aconteceu esta guinada? Quais foram os desafios e o que ajudou a implantar esse modelo?

Não é o UoD que tem tendência para negócios. São os negócios que tem tendência em buscar performance e isso hoje em dia está totalmente ligado ao novo, a capacidade de se adaptar com rapidez. Muitas empresas enxergam valor no que estamos fazendo. Para você ter uma idéia, a grande maioria dos nossos negócios surgiram por contatos dos próprios clientes. Com a maioria dos updaters também foi assim. Desde o começo fomos mais descobertos do que pró-ativos comercialmente. isso nos faz acreditar que estamos no caminho certo, porque geramos atração. Acho que pelo fato do Updaters ter surgido como uma iniciativa pessoal, por puro prazer, ajudou, as decisões foram mais corretas. Quando a gente vai para onde a paixão manda, a grana vem na cola.

3) O modelo de monetização do UoD é diferente dos que outros blogs adotaram: o site conta com espaços publicitários, mas também mantém parcerias com algumas empresas. Sabemos que há o incentivo à produção de conteúdo em seções especiais do UoD. Como funciona este modelo ou, em outras palavras, o que o UoD vende ao Banco Real, à Wunderman ou à Y&R, por exemplo?

Cara, acho uma afetação essa coisa de “monetização”. São esses jargões que acabam destruindo a essência de um blog. Tentar parecer sério dessa maneira é o primeiro passo para se perder a verdaderia personalidade do formato e não conseguir uma forma justa de remuneração. Antes de pensar em receber, é preciso pensar em entregar. E a grande maioria dos blogs ainda tem muito chão pela frente. Nossa estratégia para transformar o Updaters em negócio foi claro desde o início: gente com olhos de ver, ouvidos de ouvir e conteúdo relevante, sem afetação e sem essa opinião formada sobre tudo, que virou a regra agora. Nosso negócio é criar ambientes de aprendizado informal, sejam eles online como nossos blogs ou offline. Queremos dividirmos raciocínios com gente de verdade. É meio que o princípio Socrático do sei que nada sei. Mas garanto que nossa vontade de saber beira a insanidade. Falando como modelo de negocio, um blog tem um claro limite comercial. Mas a alma que você põe nele, não. O maior valor do UoD é o da catalização, da vitrine. Quem está com a gente, seja como autor, leitor ou comentarista, está participando ativamente de um processo, está se expondo, mostrando raciocínios, referências. isso sim pode gerar grandes negócios. Hoje fazemos consultoria e projetos especiais. Imagine o valor desse formato para as empresas.

Com relação ao “incentivo de produção de conteúdo”, isso não existe. Nosso incentivo é nosso próprio entusiasmo, que fica ainda maior quando pode virar uma fonte de renda, claro. Mas nunca tivemos qualquer tipo de pauta ou de orientação. Não acredito em post encomendado, nem remunerado. Post bom é aquele que persegue a gente e não o contrário. Se não é algo que entra no radar dos updaters naturalmente, não passa no teste e não vira post. O que vendemos para nossos clientes são esses processos e não só produto final na forma de conteúdo. Nossos blogs corporativos, como o da Y&R, da HSM, do Banco Real, são apenas a parte mais visível. Nossa idéia é criar mais updaters e não só updates.

4) O UoD tem em sua equipe um grande número de publicitários, fazendo com que seu conteúdo mostre uma boa visão desse mercado e do relacionamento entre agências e de conteudistas na internet. Qual é a sua opinião em relação à recente “fogueira” acesa sobre posts pagos, propagandas não-identificadas e o approach das agências a blogueiros?

O UoD tem muita gente de propaganda por causa do meu círculo pessoal de amizades. Mas isso era mais no começo, hoje tem gente de diversas áreas, uma grande salada. Por isso criamos nossos canais (área 3, Ouvidoria, Trippin e Gourmet), esses sim mais segmentados. Relacionamento com agências? Para gente não existe essa coisa de criar um relacionamento com as agências. Temos uma intimidade natural com vários profissionais de diversas agências e acho que conteúdo bom pode sair de qualquer lugar que tenha gente esperta. A coisa fica ruim quando blogs querem se passar por agências e agências por blogs. Um horror. Emular não é a solução. Autenticidade sim. Post pago, propaganda disfarçada, tudo isso é mentira e, como sempre, as pernas são curtas. Ao contrário do que muita gente pensa, as pessoas não são burras. Os truques funcionam de vez em quando, mas não para sempre. Atenção é algo bem mais fácil de se conseguir do que credibilidade. Tem gente pra caramba patinando nisso. Mas no fim, o que importa mesmo é que o momento é mágico e tudo isso é preparação para uma comunicação/educação/entretenimento muito mais legal do que era até hoje. Para mim, estamos vivendo na era do Hopi Hari.

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